Investigação na cultura do castanheiro: precisa-se!

Descrição da publicação do blog.

Hugo Martins

10/22/20242 min read

A investigação na cultura do castanheiro, mais que nunca, será fulcral não só para a evolução técnica da cultura, como para a resolução imediata de problemas que ameaçam seriamente a produção. Estes problemas são transversais a todas as áreas mundiais produtoras de castanha, com as suas especificidades, mas a baixa profissionalização do setor em Portugal é a principal barreira na aplicação de determinadas práticas. Deste modo é premente que as práticas utilizadas sejam devidamente comprovadas e uniformizadas, para que o setor possa fazer face às ameaças cada vez mais frequentes e de elevada gravidade, quer no que diz respeito à sanidade e consequente produtividade das plantas, quer à qualidade da castanha produzida. A discussão séria entre a academia, instituições, associações, técnicos, produtores, distribuidores, armazenistas, viveiristas e demais stakeholders transversais a todo o cluster da castanha, será fundamental para que a resolução dos problemas seja o mais abrangente, transparente e eficaz possível.

Sendo um setor muito pouco regularizado, quer a nível técnico quer a nível económico, será difícil a longo prazo evitar o seu estiolamento perante mercados internacionais, que toleram cada vez menos a utilização de práticas não sustentáveis na produção e a fraca qualidade do produto que importam. Os mercados (nacionais e internacionais) atualmente evoluem a um ritmo alucinante, portanto as práticas culturais devem acompanhar esta tendência, correndo o risco de um resfriamento no consumo da castanha a longo prazo, produto que por si só tem um valor intrínseco de mercado bastante elevado face a outras culturas.

A diminuição da rentabilidade da cultura é uma realidade para os modelos produtivos praticados atualmente, fator que consequentemente torna a cultura pouco atrativa economicamente, promovendo o abandono rural, afetando seriamente o ordenamento do território e acentuando a baixa densidade populacional dos territórios de interior.

A investigação deve ser delineada de modo a responder a questões intimamente ligadas às dificuldades dos produtores, dirigida sobretudo no sentido da produção. Observa-se que a academia e as instituições incorrem cada vez mais no erro de se dirigir na trajetória contrária, trabalhando sobretudo nas suas dificuldades e na resolução dos problemas internos de carácter científico e financeiro. A falta de transparência das instituições afasta sobretudo quem requer mais apoio, neste caso, os produtores. Salvo raras exceções, o setor privado assume a responsabilidade da evolução do conhecimento científico produzido nesta cultura, fruto sobretudo da necessidade de inovação no desenvolvimento de novos produtos/serviços.

A vanguarda das práticas e da tecnologia é fundamental para gerar competitividade, criar valor interno e profissionalizar o setor, de modo que, a investigação deve ser orientada para a sua aplicação prática, salvaguardando sempre a adaptação à diversidade dos modelos produtivos e contextualização de todos os territórios. Ainda que devam ser estabelecidas condições para que do exercício das práticas culturais se conceba evidência científica que melhor oriente as futuras práticas (como é o caso dos tratamentos fitossanitários), não deve esta ser confundida com a investigação de base, que propicie o conhecimento generalizável.